No café-livraria (ou será livraria-café?), enquanto o som ambiente despeja Nelson Ned (... Mas tudo passa tudo passará / E nada fica / Nada ficará / Só se encontra a felicidade / Quando se entrega o coração...) reviro umas revistas velhas que encontrei sobre o balcão, pois a Zero Hora do dia já está nas mãos do mesmo velho de paletó roxo de sempre. Alguém chega e pergunta: - O que fazes?
É uma colega de trabalho que deixa sempre a filha na escola do outro lado da rua e na volta passa para ver se estou por ali.
- Faço nada além de folhear estas revistas do século passado.
- Deixa disso e vamos até os “macaquinhos”.
Sigo o conselho e ao largar as revistas, dentre elas escapa uma folha arrancada de algum livro novo. Nossa! De um livro novo! Nela li este poema, cujo trecho reproduzo abaixo:
A dor, forte e imprevista,
Ferindo-me, imprevista,
De branca e de imprevista
Foi um deslumbramento,
Que me endoidou a vista,
Fez-me perder a vista,
Fez-me fugir a vista,
Num doce esvaimento.
Como um deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Fez-se em redor de mim.
Todo o meu ser suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso...
Que delícia sem fim!
É “branco e vermelho” o nome. Mas senão fosse este o nome, assim o nominaria, pois vinha sonhando a tempos palavras assim enfileiradas, domesticamente ajustadas, justapostas uma a uma e assim resolvi me aventurar pela poesia, depois de cansar de tanta prosa.
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