sábado, 7 de março de 2009

Enfim, é só saudade...

Decidi ir à praia no último fim de semana. Aqui na Serra é fácil dizer “vou à praia” simplesmente porque é fácil ir à praia; as pessoas “descem” ao litoral, enquanto que para os da fronteira chegar ao litoral significa cortar o estado de ponta a ponta.

Resgatei um dia do meu robusto banco de horas, madruguei e numa manhã chuvosa de sexta-feira estava em Capão da Canoa. Que imenso prazer me deu absorver aquele cheiro de ar salobro e ver as ruas empossadas pela água da chuva, misturada à areia; as pessoas saltitando na ponta dos pés, tentando, inutilmente, não molhar os chinelos.

Dei uma passadinha na padaria para não chegar de mãos vazias na casa da prima Zulmira que àquela hora da manhã ainda devia estar dormindo. Encontrei fácil a casa de tijolos aparentes e nosso primeiro compromisso após o desjejum foi caminhar na praia, ali, há duas quadras, sob a mormaceira, e depois ir visitar a prima Glória Virginia, a qual só conhecia das histórias que ouvia de irmãs e primas e das caixas de biscoitos que chegavam três ou quatro vezes por ano lá em Alegrete, presentes seus, nos anos 80. Ao primeiro olhar me reconheceu, abraçou-me e fugiu para a cozinha a se esconder e chorar, evento que não mais me incomoda. As pessoas ligadas a minha mãe invariavelmente choram ao me ver “gordo e lindo” e não por que me associam a um plano trágico, como já pensei, mas porque ao me verem, sentem saudade da Sirlei que amavam.

Não comeria outra coisa naquela sexta-feira que não peixes e frutos do mar, então não ficamos para o almoço na casa de Glória, onde um feijão cheirava a manjerona lá na varanda, em frente à reserva das corujas.

Passamos em casa, antes do almoço e então, talvez, conhecesse a tia Rosa que, incrivelmente, as estas alturas, ainda não conhecia. Ela entrou baixinha e morena com o aquele sorriso de canto, o caminhar peculiar ladeado que marca quase todas as mulheres de nossa família. Logo me reconheceu e passou a perguntar dos meus. Com excessão das sobrinhas que me avizinham, foi a primeira pessoa em dias que demonstrou uma consternação genuína ao saber da morte recente de Vovó Nair. É que as tias, sempre sabem um pouquinho mais sobre nós do que se imagina. Sangue não é água, já ouvi dizer. Em nossas conversas falamos dos símbolos de nossa família; mais dos Carpes e Caminha, é bem verdade, do que dos Alves Viana, talvez porque a presença dos primeiros é ainda onipresente na vitalidade centenária de vó Nita, enquanto os Viana Alves se bandearam junto ao vô Cândido. Soube de vó Tereza e vô Fritz - tios-avós, na verdade - velhinhos e saudáveis e tive vontade de estar com eles e passei a considerar uma visita na capital.

O sábado amanheceu radiante de sol. Vladimir, parente por tabela, convida para uma caminhada pela praia até Atlântida; proposta irrecusável. Pela orla alcançamos o balneário elegante e cruzamos por muitos conterrâneos desgarrados. Na volta paramos na barraca dos alegretenses onde estive com Ana Regina Gorsky; lado a lado falamos de alegretenses, indiferentes as nossas distantes posições políticas naquele lugar tão democrático: a areia de Capão da Canoa.

Um sábado de sol e eu saí no lucro, pois já nem contava em aproveitar um dia radiante e luminoso; estar na praia já era suficientemente revigorante.

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