Na noite de segunda-feira para terça perdi o sono, o que não é um evento raro. Como de costume liguei a tevê para me distrair e, quem sabe, retomar os sonhos. Passava o filme “Cinema, aspirinas e urubus”, para mim, o melhor filme brasileiro dos últimos anos, sobre a amizade insólita entre um alemão e um sertanejo. O alemão percorre o sertão vendendo aspirinas em uma fubica, nos dias que antecedem a entrada do Brasil na Segunda Guerra. Ele dá uma carona ao sertanejo que busca o progresso do sul, enquanto ele foge dos horrores da velha Europa. A separação dos dois é iminente. Em algum momento haverá o afastamento como é corrente nas histórias sobre amigos.
Só pode ser coincidência, pensei, pois a poucas horas me despedira do amigo Nelson Kullmann, no crematório de São Leopoldo. Alemão brasileiro, ela travara sua própria batalha, mas contra um inimigo implacável, um câncer insidioso no cérebro. Gostava de manter longas conversas em torno de uma churrasqueira, comigo inclusive, em suas visitas regulares a Alegrete. Raramente tínhamos a mesma opinião sobre os temas que discorríamos, o que só fortalecia o nosso respeito mútuo. Seu Nélson foi a pessoa que mais sinceramente demonstrou acreditar em minhas competências que até mesmo eu duvido, por vezes, que as tenha. Dele só ouvia palavras de encorajamento, de incentivo e, por isso, mas não só por isso, vou sentir muitas saudades de nossas conversas regadas a chimarrão, vinho chileno ou cerveja e sempre ao som da orquestra de Andre Rieu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário