domingo, 6 de setembro de 2009

Tabela periódica.

- Polônio, chega aqui, quero te apresentar Amália.
- Só um pouquinho... – ele secava o ponche de cidra do paletó enquanto se aproximava.
- Vem logo! Ele é meio desastrado, mas é sangue bom.
- Amália, Polônio; Polônio, Amália – esse era o Meyer, milico, carioca do Meyer; por isso Meyer. Pensava jogar um nos braços do outro.
- Então, muito prazer senhorita Amália – disse Polônio.
- O prazer é meu, mas pra que esta formalidade? – perguntou Amália, irônica.
- Não quis ser formal... é só por que recém nos conhecemos, saca? Mas afinal, o que a traz ao Troféu Forças Vivas? É uma digna agraciada? – Polônio falava, mas não se detinha em sua interlocutora. Olhava para todos os lados, por cima das cabeças, como se procurasse algo.
- Continua a formalidade – ela começou a olhar também sobre as cabeças - De que época tu és? Há séculos não se usa essa expressão “Saca?”.
- A formalidade é só por que falei “digna agraciada”?
- “Digna agraciada”, ora bolas!
- “Ora bolas!” é tão fora de moda quanto “Saca?” – e aí saíram os dois primeiros sorrisos da curta relação.
- Na verdade vim acompanhando uma prima que recebeu o troféu – continuou Amália.
- E onde ela está?
- Não sei. Deve ter se arrumado por aí. Já estava bem altinha...
Uma pausa para uma biritas e....
- Curioso! – disse Polônio, com a testa franzida e coçando a orelha – Primeira vez que conheço alguém com nome de Amália, pessoalmente, pelo menos. Na verdade só conhecia a Amália Rodrigues, a cantora portuguesa.
- Justamente! Foi em homenagem a ela o meu nome.... Minha mãe... sabe? louca por fado. E o seu? É em homenagem ao deus grego?
- Que deus grego? Que deus grego que se chame Polônio!
- Me refiro a Apolo – respondeu Amália, balançando a cabeça em movimentos circulares.
- Neste caso me chamaria Apolônio.
- Apolíneo, tu quer dizer?
- Tá bem, desisto! É que meu pai era químico. Adorava Marie Curie, a química polonesa. Minha mãe até sentia ciúmes – o silêncio denunciava que ela ainda não tinha entendido - Ela descobriu o elemento químico radiativo.
- Quem? Sua mãe?
- Na verdade, Marie Curie. Aí batizou de Polônio em homenagem a Polônia..
- Eu sei, estava brincando. Estudei química no colégio. Marie, mulher de Pierre... Curioso... - hesitou um momento – conhecer alguém que saiu da tabela periódica. Na verdade, já conheci outros elementos químicos pessoalmente. O Germano, o Arsênio, o Hélio..., mas Polônio ainda não conhecia. Mas gosto. É forte, másculo, tem atitude e é sonoro.
- Nome com atitude! Esta é boa, mas eu também gosto do meu nome. É singular...
Para quebrar de vez o gelo, Polônio armou-se de um sorriso sem vergonha e, conformado com a peculiar alcunha, lascou:- Mas poderia ser pior. Por sorte não me chamo Estrôncio ou Xenônio.

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