segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Salsos chorões

Era em Alegrete, na Vila Santos Dumont, que me pendurava nas ramas densas de um salso. O galho, lá no alto, vergava verde e me lançava desde o muro até quase o meio da rua e nunca se entregava; a cada dia ficava mais resistente e, ainda assim, não perdia a flexibilidade.
Então, retirei de um livro o nome pelo qual passei a chamá-lo de um certo dia em diante: salgueiro. Não entendera o salso, na verdade e, tão logo parti, perdeu o chorão o embate com o muro na afeição dos seus proprietários e lhe cerraram as bases.
Foi em Pequim que compreendi o salgueiro, não o chorão, o salgueiro, levemente inclinado, a árvore chinesa por excelência.O salgueiro tem qualquer coisa de evasivo. A sua folhagem é impalpável, o seu movimento assemelha-se a uma confluência de correntes. Tem mais do que as que se vêem, do que as que deixa ver. Não há árvore menos ostensiva. E embora sempre fremente (não o estremecimento breve e inquieto das bétulas e dos choupos), é como se o ar o ignorasse e o deixasse vogar e nadar despreendido, sempre no seu lugar ao vento, como o peixe na corrente do rio.É pouco a pouco que o salgueiro nos forma, dando-nos todas as manhãs a sua lição. E uma paz feita de vibração nos toma, de tal modo que finalmente já não podemos abrir a janela sem sentir vontade de chorar.

Nenhum comentário: