"Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas".
E. E. Cummings
É uma sala ampla, em um prédio dos anos 40, vê-se pela altura do pé-direito e pelo vão das aberturas. Os moveis; estantes, mesas e escrivaninha, remetem ao início do século 20. Mesas de fórmica e armários metálicos destoam do geral. As raridades, no entanto, são os livros que pertenceram a um político e diplomata, cujo retrato ocupa lugar de destaque na sala. No lugar há apenas uma mulher, estudante de arquivologia, que trabalha como voluntária da catalogação e recuperação do acervo. Seu nome é Marlene e trabalha junto a um professor de história, que coordena os trabalhos. O professor chama-se Domingos. Ambos são jovens. Ela acadêmica e bolsista, 24 ou 25 anos. Ele professor doutorando, por volta dos 30 anos.
A bolsita abre algumas janelas e atravessa a sala até uma mesa que apara um aparelho de som. Ela põe um cd, fecha o pequeno compartimento e pressiona o play. Uma música começa a tocar. Marlene aprecia inicialmente e depois reduz o volume. Ela está em pé, próximo à mesa central da sala. Organiza alguns volumes.
A porta da biblioteca se abre. Ouve-se o som do sininho preso no alto da porta. Entra Domingos. Põe o casaco em um cabide e junto, a mochila.O professor resmunga enquanto despe um pesado casaco de lã.
Domingos:
- Pensei ter dito para retirarem esta campainha. Biblioteca é lugar de silêncio.
Marlene:
- Bom dia, professor. É uma harpa eólica...
Domingos:
- O quê?
Marlene:
- Uma harpa eólica....
Domingos:
- Se é uma harpa eólica, devia estar onde há vento...
Marlene não demonstra irritação. Domingos caminha em sua direção. Ela o vê caminhando em slowmotion. Os dois ficam frente a frente com a mesa coberta de livros entre eles, as mão próximas, prostradas sobre um volume de Irmãos Karamazov.Ao fundo toca a canção preferida de Marlene e ela sente que deve tocar a mão de Domingos. Seu coração dispara, a harpa eólica dindala e Marlene esconde sorrateiremante a mãozinha pálida no bolso do seu casaco de kashimir.
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