segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Deusas de assombrosas tetas

Deveria se chamar “Notas sobre o matrimônio”, mas diriam todos, “como alguém que nunca se casou pode palpitar sobre o casamento?”. Por isso, no topo, a referência a Caetano.

Ela trabalhava na repartição, onde recebia um razoável salário, que somado aos ganhos do marido, um pequeno empreiteiro, dava-lhe o status de classe-média “A”. Isso significa carro do ano na garagem – não conta a camionete do marido que é do trabalho – televisão por assinatura com 2 pontos, um na sala, outro no quarto, computador com internet, I-phone, viagens às Termas ou a Buenos Aires na Páscoa e ao litoral no verão, planos de ter filhos, um casal de gêmeos, para resolver tudo de uma vez só, o de uma pós-graduação e um outro, este totalmente secreto, e só dela, o de por implantes de silicones nos seios.

Havia a mensalidade da casa de repouso onde vivia sua mãe com Alzheimer, mas ela fez as contas e concluiu que com a promoção, uma ajudinha mais do maridão e ela estaria com implante antes da praia de fevereiro. Imaginou-se abundante nas areias de Capão.

Tinha que ser surpresa para ter graça. Ela percebia o modo como ele observava as fotos das modelos dos anúncios nos encartes da Marisa. No usuário dele do computador, sempre uma ou outra foto nova de mulheres em roupas e posições insinuantes. A maioria exibia um grande par de peitos. A relação, o rala-e-rola, oscilava entre períodos quentes, outros frios, quase sempre quentes, mesmo assim ela não ia se arriscar.

- Vou por peitão.

Um dia ele chegaria do trabalho lá pelas 7h, ela já estaria em casa, toda perfumada, esperando, de conjuntinho vermelho, mas sem cinta-liga, porque isso é vulgar. Ligou pra Solange, que sabia tudo sobre plástica e tinha peitões desde que se conheceram:

- Amiga, já recauchutei tudo, mas os peitos são meus, naturalíssimos – revelou Solange. Com a amiga pegou o telefone de um cirurgião uruguaio que fazia milagres e cobrava a metade do preço, mas ainda havia um problema: “A cicatrização, fofa! Tá louca! Não tem como fazer surpresa. São dias de curativos”.

Ela não se sentiu derrotada, inventou um curso de 15 dias e se mandou, com a Solange, que era madame, e não dava satisfações para o marido, rumo a Salto, na República Oriental.

Dias antes, quase desistiu. Ouvira uns boatos de que o cirurgião era meio metido a conquistador, mas foi convencida; "é boato espalhado pela Suzete", que atravessou a fronteira para tirar uns culotes e acabou caída de amores pelo cirurgião.

- Vai tranqüila – disse a Solange – é intriga. No mais, é fama de cirurgião plástico...

- É né? Deve ser a fama... por causa do Pitanguy.

Dias depois, de volta à cidade, sem curativos ou pontos, preparou-se toda. Cabeleireiro, massagens, ofurô. Mostrou pra toda a mulherada. “Eu mato quem abrir esta boca e estragar a surpresa”. Sabem como é cidade pequena.

Ele chegou, foi direto pro banho. Depois, direto pra cama. Ela mandou ver. Foi quente! Ele gostou, estava sem fôlego. Mas se assombrou com os melões. Não disse nada à esposa, mas se lembrou de como era bom quando cabiam inteiros na boca. “É, vou sentir saudades”.